domingo, 3 de fevereiro de 2008

A Secretaria de TI e os novos tempos.

Tibério Luiz

Passando a integrar a equipe de TI do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia – TJRO no final de 2003, deparei-me com um exemplo claro de que o negócio público é levado a sério, que realmente existem pessoas comprometidas com a qualidade e eficiência na aplicação dos recursos públicos, sempre com vistas ao cidadão, ví isso em várias áreas do TJ, não apenas na Coinf. Vindo da iniciativa privada, com uma breve passagem pelo executivo, possuía uma imagem negativa do serviço público, mesmo assim decidí encarar de frente este desafio. Hoje tenho certeza que em muito me enganei ao achar que encontraria pessoas acomodadas e sem comprometimento.


Vejo que fazemos parte da elite de TI do Estado de Rondônia e certamente muito a frente da maioria dos tribunais estaduais e federais, conquanto saibamos que ainda estamos muito aquém de nossa real capacidade e temos um longo e tortuoso caminho a percorrer.


Não convém, nem será objetivo deste artigo, apontar fontes ou responsáveis pelos nossos erros, ao contrario disso, identificá-los, de forma a suscitar o debate, tão necessário neste momento ímpar que atravessamos. Como sabemos, anualmente o número de feitos distribuídos no Judiciário Rondoniense aumenta exponencialmente, em 2007 foram cento e oito mil casos novos só no primeiro grau e hoje é inconcebível atender esta crescente demanda sem uso efetivo da informática, fato que eleva a área de TI, como elemento estratégico para a Administração do Tribunal. Como co-responsáveis diretos pelo sucesso da Coinf, é momento de reconhecermos as falhas e buscarmos juntos as soluções que precisamos. Sabemos que as opiniões apresentadas neste artigo não serão compartilhadas por todos, mas isso realmente foge ao seu objetivo, é inevitável estimar um crescimento e melhoria do setor de TI sem identificar claramente seus problemas.


Quando falamos de problemas e erros da Coinf, de pronto pensamos em infra-estrutura, ambiente de trabalho, investimentos, capacitação, grande demanda de trabalho, salário, etc... É claro que temos que pensar nesses temas, mesmo assim os considero pormenores diante do quadro real temos em relação à gestão de projetos, processos organizacionais, planejamento, organograma entre outras questões que refletem mais fortemente nos resultados de nosso trabalho. Vamos por exemplo pensar em capacitação, recordo que no ultimo ano realizamos cursos de PMI, UML, teste de software, Java, Oracle Application Server, entre outros, que somados ultrapassam 20 cursos. O Tribunal tem atendido satisfatoriamente nossos anseios o que já foi um ponto positivo, contudo faço um questionamento, quanto desses cursos estamos aplicando em nosso quotidiano? A resposta quase unânime será: pouquíssimo ou nada. No ponto: investimentos, anualmente um bom recurso financeiro oriundo do FUJU é destinado à área de TI, temos em vigor desde 2001 a LEI estadual 1004, que sugere à administração o uso preferencial de software livre, porém, boa parte do recurso, utilizamos em licença de softwares, inclusive estamos há um ano no processo de compra de um software para UML, o uso de VOIP já é realidade em muitas corporações e até domestico, e nós ainda não avançamos neste sentido. Enquanto isso, nossa rede em muitas comarcas e em alguns pontos da capital é inadequada à nossa demanda. Outro tema é a demanda de trabalho, indubitavelmente incompatível com o tamanho de nossa equipe, é necessário mais pessoal de apoio ao usuário, analistas de requisitos, analistas de desenvolvimento, analistas de testes, gerentes de projetos, ocorre que sempre assumimos novas tarefas, mesmo sabendo que haverá comprometimento de projetos em andamento, e que não conseguiremos honrar os prazos e não será possível dispensar o tempo necessário à prestação do serviço com a qualidade necessária o que interfere inclusive na estima da equipe.


Vejamos estes sintomas, aparentemente os grandes vilões. Nosso problema real vai além desses pormenores, vejo que estamos esquecendo mesmo de planejar e organizar melhor nossas ações, estabelecermos metas quanto às mudanças em nossos processos internos, imagine como é difícil planejar os cursos e outros investimentos para o futuro, se não sabemos para onde vamos. Por que não utilizamos UML? Por que fizemos um curso de PMI e não montamos uma equipe de projetos? As respostas são várias: Ainda não temos a cultura do planejamento, o nosso modelo de gestão atual requer modernização, faltou vontade e patrocinador para conduzir esta mudança. Realmente estou falando de mudanças radicais e toda expectativa de mudanças provoca receio e não é fácil acontecer, infelizmente não há mais como adiar este processo de modernização da Coinf e de gestão de TI, pois estamos às vésperas de um estouro na demanda de todos os serviços em nosso estado e com o Judiciário não será diferente. Não quero dizer com isso tudo, que a Coinf está parada, apenas afirmo, que podemos e devemos melhorar a qualidade e eficiência de nosso trabalho, nos sacrificando para implantarmos definitivamente a gestão efetiva dos projetos-PMI, modelos de gestão de TI mais modernos como COBIT, ITIL, mudanças em nosso organograma, etc... e tenho certeza que este Workshop será um divisor de águas no rumo da Coinf e de pronto sugiro que este ocorra ao menos uma vez por ano, se possível, semestralmente.


Um Assunto que deve ser bastante debatido neste workshop é o nosso foco no planejamento estratégico do Tribunal, a Coinf precisa ser um órgão que presta serviço ao Tribunal, com vistas em qualidade e sempre em sintonia com o Planejamento estratégico, temos que estabelecer metas e procurar seguir a risca o PDI e o Planejamento estratégico. Observamos que durante o curso de nossos projetos, coisas novas surgem, novos projetos são iniciados, prejudicando mortalmente nosso PDI e pouca reação ocorre por parte da Coinf, neste sentido temos sim, que trabalhar também esta problemática. Outro ponto delicado é que a Coinf precisa ser um órgão técnico, consultivo e respeitado, não raro uma vaidade é acolhida em detrimento de uma análise técnica e normalmente quando isto ocorre, muito desperdício de trabalho é gerado. Isso só poderá ser alterado, através da mudança de perfil de nossos colaboradores e não adianta conjeturar quanto ao coordenador ou algum diretor, esta mudança dependerá de todos, como num time e através de normas que teremos que propor à administração.


Quando realizamos o curso de Gestão de Projetos-PMI, imaginamos como poderíamos implantar tantas técnicas importantes que vão da gestão de escopo, pessoal, controle de qualidade, comunicação ... em nosso ambiente? Se iniciarmos uma das áreas de conhecimento por semestre, poderemos chegar lá. Porém para isso acontecer, sacrifícios serão necessários, teremos que estudar mais, sacrificar algum ou alguns projetos do Tribunal, tudo isso com vistas em um órgão de TI mais eficiente e maduro num futuro próximo, capaz de atuar a altura da necessidade do judiciário Rondoniense.

Um assunto interessante que desejamos abordar é quanto a troca de tecnologia entre órgãos da administração pública. Em 2007 elaborei e através da coordenadora de informática enviei um email à todos os diretores de TI, informando que deveríamos conversar mais sobre certificação digital e assim tivemos apoio do TJMS e do TJRS, preparamos e mandamos também um oficio ao STF solicitando apoio quanto ao carimbo de tempo e também obtivemos resposta, hoje a infra-estrutura de carimbo de tempo do STF está a nossa disposição e com isso economizaremos só de investimento inicial, mais de R$300.000,00. A EC 45 de 2004 foi um marco importante nesse sentido, hoje o CNJ está fomentando essa integração de forma natural, não mandatória, um exemplo claro está no desenvolvimento do sistema projudi e mais ainda com a Resolução 46, que estabelece as tabelas processuais unificadas de classe, assunto e movimento para o judiciário estadual. Esta campanha deve ser abraçada por nós de Rondônia, podemos levantar a bandeira de desenvolvimento conjunto de projetos, o ganho é para todos. Uma oportunidade que temos é o desenvolvimento de projetos como o Sap Segundo Grau Virtual, julgamento virtual, um sistema de apoio a decisões com consultas à base de julgados, leis, etc...

Outro assunto relevante, é a nossa remuneração, sabemos que existem órgãos da administração que pagam menos que o TJ, da mesma maneira sabemos que somos mal remunerados se comparados a outros tribunais. Na prática a questão salarial é muito relativa e depende diretamente da estratégia da Administração quanto ao rumo de TI, cada profissional possui seu valor, o TJRO no ano passado perdeu três excelentes profissionais de TI e poderá perder muito mais, porquanto o bom profissional vai para quem pagar melhor. Neste sentido temos que mostrar à administração que somos os melhores e fazer entender que órgãos que pagam menos não são referência para nós, estes não possuem o mesmo perfil profissional da Coinf. Ratificamos sem medo de errar, que a Coinf reúne uma das melhores equipes de TI do Estado, senão da Região Norte, com imensa perspectiva de crescimento, e por isso este assunto tem que ser considerado prioridade.


Como podemos ver, o caminho será longo, e neste primeiro workshop, poderemos debater temas como: a reestruturação da equipe, análise de aptidões individuais, criação de equipes ad hoc para cada projeto, mudança no organograma, adoção de técnicas de gestão de projetos modernas, normatização de uma metodologia de desenvolvimento e padronização de ferramentas, investimento em um ambiente mais adequado para nosso trabalho, criação de mecanismos para motivar a equipe, continuação do programa de capacitação profissional, remuneração, integração com outros TJ´S e principalmente a criação de um grupo de trabalho independente, para fomentar e conduzir toda essa mudança. Juntando estes temas aos propostos pelos outros colegas e diretores, teremos muito a refletir e a construir.



Para finalizar, faço questão de elogiar a Coinf, que mesmo com todas as dificuldades, têm desempenhado um papel fundamental para o aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, atendendo com presteza às necessidades do Poder Judiciário e ratificar que temos todos os recursos para transformar a Coinf em uma grande equipe, produzindo e atendendo com muito mais qualidade e eficiência, apenas quebrando paradigmas, implantando novos processos e aplicando técnicas modernas de gestão, sem a ilusão que isso aconteceria em curtíssimo prazo. E desejo à todos e a Coinf a benção de Deus e muito sucesso.


Um forte abraço à todos,


Por:Tiberio Luiz


Colaboração: Tarik Kamel



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